Era o dia em que se celebrava o Dia das Mães. Liturgicamente, o domingo era dedicado ao Bom Pastor. Estava presidindo a terceira missa do domingo. Havia pregado em todas as homilias que o Bom Pastor se disfarça de muitas roupagens e personagens, como de mães, de pobres, de crianças, de enfermos, de amigos; às vezes de pessoas, outras vezes de sinais ou palavras.
Até aí, nada de novo. No entanto, supreendentemente, ao celebrar a última missa do dia, na Igreja matriz Nossa Senhora das Dores, às 19:00 horas, entra um jovem, com boné na cabeça, percorre todo o corredor central do templo, posta-se no primeiro banco, tira o boné e permanece de pé em frente ao altar, imóvel e olhar fixo no presidente da celebração.
No momento da comunhão eu quis fazer um gesto de distinção para as mães, pedindo que viessem receber a comunhão de minhas mãos para que pudesse dizer-lhes uma palavra especial em seu dia. Imediatamente fui rodeado de mães. Eis que, no meio das mães, estava o aparente desconhecido, que estendeu sua mão, abraçou-me, segurou-me firme, como o amigo mais intimo e demorou um tempo para desprender-se de meu pescoço. Beijou-me e foi embora…
Dei-me conta, então: aí estava o Bom Pastor. Em todas as celebrações havia falado, que no dia de hoje, passaríamos por ele, ou ele muitas vezes passaria por nós. Mas precisávamos estar atentos, pois Ele viria disfarçado de jovem, de criança, de mãe, de pai, ou de algum gesto.
Não é que Deus quis presentear-me com um abraço, surpresa. Quis expressar o que rezava o Evangelho do dia: “Aqueles que o Pai me dá, ninguém arranca de minha mão”. Experimentei na própria carne essa afirmação. Senti-me segurado firmemente pelos braços do Bom Pastor, confirmando tudo o que havia pregado aos fiéis.
Experiência inusitada, inexplicável, emocionante. Quem sabe para muitos um fato comum, mas para mim – e creio para os que presenciaram – não temos dúvida, um sinal de carinho e de confirmação. Não dúvida de que era o Bom Pastor, claro, disfarçado de pobre, de dependente químico, de jovem, de estrangeiro, não importa. A imagem e muito menos a roupagem, sem nenhuma palavra, a verdade que ele tinha braços, tinha afeto, tinha calor humano, tinha sensibilidade, garanto que o reconheci. Sou grato a Deus pelo carinho. Sou profundamente reconhecido por ter recebido este abraço, justamente no dia das mães, quem sabe como poucos neste dia das mães. Não tenho mais mãe para abraçar e ser abraçado, mas fui abraçado. Por isso afirmo: domingo inesquecível, domingo único. Passará para a história de minha vida como mais um sinal de ternura de Deus.
Pe. Xiko