A caminhada continua
Por Ida Rosatelli
“Minha caminhada de cursilho – que já dura 48 anos – começou quando meu marido, Luiz Rosatelli, fez o cursilho, em Valinhos, em 1963. Eu fiz o 7o Cursilho de Mulheres, em São Paulo, em 1964. Ele estava na equipe de responsáveis (então chamada de ‘equipe de dirigentes’) formada por membros da Missão Católica Espanhola que moraram primeiro em Jaboticabal (SP) e depois com Pe. Palácios, numa paróquia de São Paulo: Pe. Celso, Maria Currubi, Maria Helena de Castro Prado, Montserat Brossa e Maria Del Carmen Caralt.
Logo após o cursilho, na primeira Ultreya de que participei, fui convidada a dar meu testemunho, a falar sobre o que o cursilho havia representado para mim. Contei que eu sofria por ter ficado estéril depois do nascimento do meu filho, quando queríamos, meu marido e eu, uma grande família. Meu marido havia comprado uma Kombi para comportar os filhos!
Entretanto, no Cursilho eu havia entendido que a minha missão no mundo ia além dos limites da família, que Deus me chamava a ser uma apóstola evangelizadora nos ambientes em que estava inserida, através do meu testemunho de fé e vida, a serviço da construção do Reino, pois Deus me havia dado muitos instrumentos para ação: uma família bem estruturada, uma educação exemplar na escola de freiras que me havia proporcionado excelente formação religiosa, estudos superiores dirigidos ao Direito das pessoas e das coisas, um casamento sólido baseado no amor verdadeiro.
Fui então convidada a frequentar a então chamada Escola de Dirigentes e, a partir daquele momento, passei a dar meu testemunho de Igreja viva e atuante, servindo ao Movimento de Cursilhos no Brasil. É claro que há muito perdi a conta de quantos cursilhos servi como dirigente, de quantos Cursilhos de Dirigentes ajudei a realizar pelo Brasil afora, de quantos encontros e reuniões, nacionais e internacionais assisti representando o então Secretariado Nacional do MCC do Brasil.
Mas eu tive de parar as atividades em 1987, quando, em consequência de um sério acidente, meu marido passou a necessitar intensamente de meus cuidados. Nessa ocasião, decidimos nos mudar para Porto Seguro onde tínhamos uma casa. O fato de ter deixado de atuar diretamente no MCC não me fez nem perder o contato com o mesmo – através de comunicação frequente com amigos queridos do cursilho, principalmente Pe. Beraldo –; nem deixar de continuar a viver meu ‘quarto dia’ na minha nova condição de vida pessoal e profissional.
Curiosamente, só agora, quando reflito sobre minha vida, percebo que Deus nos queria aqui, em Porto Seguro, apesar de nossas famílias continuarem a viver em São Paulo… Aqui deveríamos dar a nossa contribuição ao Reino: iniciamos todas as pastorais e, depois de ajudar na sua implantação, desenvolvimento e estruturação, as entregamos aos baianos.
Fundamos inúmeras entidades: Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, APAE, Conselho da Criança e do Adolescente (pelo qual voltei, recentemente, a ser a responsável), Conselho Municipal da Mulher, Delegacia da Mulher (fundada durante minha gestão como secretária da OAB/Porto Seguro).
Em 2010, meu marido partiu para a casa do Pai. Apesar da insistência de minha família, decidi continuar a viver em Porto Seguro. Aos 78 anos, continuo com a mesma garra e vontade que tinha nos meus primeiros tempos de Cursilho. E como nossa missão não termina nunca, estou agora lutando pelos Conselhos Municipais dos
Idosos e dos Portadores de Necessidades Especiais, além do grupo Mulheres em Ação, responsável por todas as aldeias indígenas da Bahia.
No ano passado recebi uma comovente homenagem da subseção Porto Seguro da OAB. Durante os discursos, algumas constatações e depoimentos calaram fundo no meu coração: “… além do tempo que Ida Rosatelli tem de dedicação ao Direito como profissional, a conduta dela na sociedade representa muito, é um exemplo de comportamento de uma cidadã engajada em movimentos sociais…”; “Ida é daquelas mulheres como poucas, que prestou e ainda presta serviços espontâneos, voluntários, não só para a classe dos advogados, mas, principalmente, para a comunidade de Porto Seguro.”; “Se hoje temos muitas entidades
importantes, é porque Ida sempre esteve participando, na linha de frente”.
Estou certa de que são muitos os que – entre nós ou já junto de Deus – estão celebrando, com justa alegria, os 50 anos do MCC no Brasil. Para mim, a caminhada continua… e deve continuar para todos aqueles que foram escolhidos por Deus para descobrir, através desse maravilhoso instrumento, como servir ao Criador e às suas criaturas no lugar onde Ele nos plantou.”
“Tenho certeza de que tudo o que vivi e vivo é, sim, fruto do meu cursilho!”