Pelo Domingo de Ramos da Paixão Senhor, nós, queridos irmãos cursilhistas, entramos na Semana Maior da nossa vida espiritual. Assim era chamada a Semana Santa no início da Igreja. E hoje entendemos isso porque em todas as missas ao longo do ano seremos sempre inclinados a vivenciar novamente e atualizar os mistérios de Jesus que nessa semana se vive de forma intensa.
É dessa semana, por exemplo, que são consagrados os Santos Óleos que ungirão novos cristãos pelo Sacramento do Batismo, confirmarão na fé os cristãos pelo Sacramento do Crisma, ordenarão novos membros da Igreja pelo Sacramento da Ordem, e ungirão os doentes pelo Sacramento da Unção dos Enfermos. De fato, é nessa Semana que vivenciamos a centralidade da nossa fé, enquanto Católicos Apostólicos Romanos.
Para muitos, vivenciar essa Semana é se recordar do sofrimento e da dor de Jesus. Mas nesse artigo, venho dizer que, na realidade, o que nós devemos nos recordar é da vida e da transformação de uma realidade que se via sem luz, em trevas e escuridão.
Antes de tudo, gostaria de dividir nossa reflexão em três partes. São elas:
- A cruz não é apenas uma lembrança de dor;
- A cruz sem Cristo e Cristo sem cruz não faz menor sentido;
- A cruz como anúncio do encontro com a Graça.
A cruz não é apenas uma lembrança de dor
Vale recordar que a cruz, na época de Jesus, era um sinal tremendo de castigo e dor. A cruz era a pior condenação que uma pessoa poderia ter. Era uma forma de mostrar o quão vergonhoso era fazer o que aquelas pessoas que morriam na cruz faziam.
E mesmo sendo a pior de todos, Jesus aceitou essa condição humano. Como estava escrito na 2ª leitura (Fl 2,6-8) desse Domingo de Ramos:
[…] Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.”
No entanto, o que era vergonhoso e condenatório, se tornou um sinal de abundância. Tornou-se Páscoa. Torno-se Graça. Tornou-se vida divina.
Flor de Maracujá
E sobre esse paradoxo de vida e morte, trago uma antiga lenda da origem da flor de maracujá. Entenda que essa lenda serve apenas para enriquecer nossa reflexão a cerca desse paradoxo.
Passiflora Incarnata é o nome em latim dessa flor que em português significa flor da paixão. E diz essa antiga lenda que nos pés da cruz a qual Jesus morreu, havia algumas flores que brotaram após seu sangue ser derramado sobre o madeiro seco e sem vida. Entre elas estava a flor do maracujá; razão pela qual, segundo a lenda, é roxa, simbolizando a paixão de Cristo.
É bonito perceber que onde existe secura, envelhecimento e desgraça (falta da Graça de Deus) pode existir vida pelo sangue de Jesus. E é Ele quem nos pede, nessa Semana Santa, a juntar nossas cruzes à Dele para que juntas elas possam dar vida.
A cruz sem Cristo e Cristo sem cruz não faz menor sentido
Nosso Carisma nos ensina que o Cristo que devemos nos recordar é o Cristo vitorioso, que após a sua morte, ressuscitou e foi ter com os seus no ambiente em quem sempre estavam reunidos. O MCC nos ensina isso, não porque devendo apagar o sofrimento de Jesus e apenas nos recordar das coisas satisfatórias. Pelo contrário, queremos nos lembrar da sua Paixão pela sua Ressurreição. Queremos olhar para a cruz e enxergar vida, saída, vitória e Graça.
No entanto, queridos irmãos, a Cruz sem Cristo é apenas um madeiro sem vida, e Cristo sem Cruz é apenas um mito. Entenda que nunca foi dito por Jesus que ele não teria que passar pela dor. Até mesmo São Pedro tentou se esquivar dessa missão de Jesus. Mas como relata Mateus 16,23, Jesus o repreendeu.
“Logo depois, Jesus falou sobre sua própria morte e Pedro o repreendeu. A resposta de Jesus foi áspera: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das homens”
Paixão é uma palavra que vem do grego Páthos e significa sentimento de dor, compaixão ou empatia. Aristóteles , filósofo da Grécia Antiga, define a paixão (páthos) como o que move, o que impulsiona o homem para a ação. Perceba que a vida de Jesus e sua paixão são inseparáveis, visto que o que lhe impulsionava era a missão de salvar a todos. Mesmo sabendo que era preciso sofrer, sentir dor, agoniar-se. A sua paixão era o que o movia, logo é impossível pensar em Jesus sem nos lembrar de sua dor, de seu sofrimento, de sua morte.
Veja que Deus não nos criou para o sofrimento. Ele nos deu o paraíso por Adão e Eva. No paraíso existia tudo o que o homem precisava. Mas por concupiscência e avareza de Adão e Eva, ambos foram expulsos. No entando,foi em Jesus que recuperamos, por Graça de Deus, a entrada para o paraíso.
Quando Jesus ressuscitou e Maria Madalena foi até o sepulcro onde Ele estava ( Mateus 28,14-16), recorde-se que ela olhou para Jesus achando que era um jardineiro.
Então reparou que alguém estava atrás de si. Era Jesus, mas não o reconheceu.“Porque choras?”, perguntou ele. “Quem procuras?” Ela pensava que fosse o jardineiro: “Se foste tu que o levaste, mostra-me onde o puseste que eu vou buscá-lo.”“Maria!”, disse Jesus. Ela voltou-se para ele: “Raboni!”, que quer dizer: “Meu Mestre!”
Essa visão de Maria Madalena não foi uma confusão, mas uma promessa feita pelos antecessores de Jesus, os quais o anunciavam como o Messias, o Salvador, o Cristo. Jesus nos devolveu o Paraíso por amor e compaixão. É em Jesus, o novo Adão, que todas as coisas se recriaram. Foi pela sua morte que a vida ganhou um novo sentido.
A cruz como anúncio do encontro com a Graça
Por fim, querido cursilhista, vamos refletir a cerca da cruz como anúncio do encontro com a Graça.
Para exemplificar isso, trago uma pintura de São Bernardo de Claraval, abade francês do século XI, o qual teve uma visão. Aparentemente, pode parecer nessa pintura que São Bernardo o pega pelo braço como uma criança que necessita de cuidado. Mas na realidade, era Jesus que descendo da Cruz vai ao seu encontro para abraçá-lo.
E essa pintura é o que nós cursihistas somos chamados a vivenciar em nossa espiritualidade. O Cristo que nos abraça no alto da Cruz nos convida a ressuscitar com Ele, a vivenciarmos sua Páscoa com Ele. É na sua cruz que o encontro com a Graça acontece.
Recentemente conduzi uma escola vivencial a qual eu contei minha experiência aos presentes. Refleti a cerca do meu Cursilho, o 2º tempo do método. Levei-os a fazer uma relação entre os dias antes de eu entrar na casa para realizar o Cursilho, os dias que estive na casa para realizá-lo e o meu 4º dia, após minha saída da casa.
Com isso, conclui com eles que os dias em que se antecederam o meu Cursilho foram os dias de paixão, dor e sofrimento. E ao entrar na casa para realizar o Cursilho, ao me encontrar com a Graça de Deus, me deparei com a ressurreição.
Para mim, o meu Cursilho foi como essa pintura de São Bernardo. Recebi de Jesus, no alto da Cruz, um abraço. E esse abraço foi o momento em que eu ressuscitei nele e Ele ressuscitou em mim.
O Cursilho foi para mim uma Ressurreição. Após entender o sentido real da vida, pude rolar as pedras que não me deixavam enxergar a luz de Cristo. E assim, o Cursilho também pode significar um momento de ressureição para muitos.
Conclusão
Caro cursilhista, concluo esse artigo te convidando a viver essa Semana, a qual damos o adjetivo de Santa, entregando-se inteiramente aos mistérios de Jesus. Deixe ser amado por Ele. Deixe ser abraçado por Ele.
Santo Inácio de Loyola nos ensina em seus exercícios espirituais a viver os mistérios de Cristo com bom ânimo e generosidade. Seja generoso com o chamado de Jesus e tenha ânimo para fazer o seu percurso do calvário ao momento da sua ressurreição.